1. PROIBIDO ADIVINHAR
2. O COMBOIO DOS ATRASOS 3. FAZ-ME UM FAVOR 4. SETE E PICO 5. CANTAM AS FILHAS DA ROSA 6. NO DIA EM QUE O MUNDO MUDOU 7. ASSUNTO ENCERRADO 8. EMAIL PARA PARIS 9. SÃO JOÃO 10. SENHORA DO ALMORTÃO ![]()
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LETRAS
#1 Proibido Adivinhar
Laptop na mão a mala no chão Um futuro adiado é futuro ou solidão É cedo para ter saudades tarde para voltar atrás E ninguém a quem mostrar aquilo de que sou capaz Curriculum vitae, competências, passaporte Um perfil adequado e pouco mais que lhes importe O hostel não é mau a vida não é tão ingrata Aqui perto há um bar que tem cerveja barata Já não dá para adiar proibido adivinhar Às vezes ficar sozinho é uma dor que não se escreve Quase toda a gente teme mesmo quando não se teme Fez-se o que havia a fazer a gente dá o que tem Um diploma na mão aprende-se a acreditar Mas existe qualquer coisa que me está a faltar A vida só faz sentido colorida de paixão Ontem deram-me um sorriso é amor sim ou não #2 O comboio dos atrasos No comboio dos atrasos vai gente que a gente esquece Vai quem nunca chega a horas e às vezes nem aparece Devagar devagarinho eu conheço tantos casos De quem passa a vida inteira não comboios dos atrasos Logo pela madrugada vai o sinal de um bocejo Vai a noite acordada vai a lembrança de um beijo Vai quem perdeu quase tudo e quem não tem nada a perder Vai alguém com um ar sisudo por não ter nada a dizer Vai uma lágrima solta num olhar desamparado Um bilhete de ida e volta que nunca foi usado Um caso de amor secreto com perfume de abandono Vais um olhar indiscreto e por resposta um olhar de sono No comboio dos atrasos vai gente que a gente esquece... Logo pela madrugada vai quem já vai atrasado Quem nem se quer deu por nada e vai dar ao destino errado Vai quem quer andar no centro e do centro nunca sai Vai quem não quer ir lá dentro mas não sabe onde vai #3 Faz-me um favor Uma prenda para a fazer sorrir Para ela descobrir E quem sabe assumir Mas eu sei bem É fácil não saber O que é bom para dizer Eu vou ter de aprender Pois é o medo de arriscar Receio de falhar Não dá coisa com coisa e tal Melhor é deixar de pensar E ser só natural Faz-me um favor não digas a ninguém Eu sinto assim um não sei quê E vou dizer-te por quem Faz-me um favor não digas a ninguém O que eu sinto é pela filha da senhora tua mãe No outro dia fui à repartição Buscar uma certidão E ela atrás do balcão Nem fui capaz De por um ar audaz Vergonha lá para trás Mostrar como se faz Pois é o amor por preencher Uma certidão qualquer É sempre a mesma coisa e tal Melhor é deixar de hesitar e ser só natural #4 Sete e Pico Letra e música: António Mafra No Baile da D. Ester Feito a semana passada Foram dar com o Chaufer A dançar com a criada Dizia-lhe ela baixinho Na prise és bestial Eram pr'aí sete e pico Oito e coisa nove e tal Eram pr'aí sete e pico Oito e coisa nove e tal Chegou altura da valsa, Exibiu-se o Osório. De repente cai-lhe a calça, Rebentou-lhe o suspensório. Aflito, com a mão na cinta, Perante o riso geral. Eram pr'aí sete e pico... O D. José de Vicente Que é de S. Pedro da Cova Pra mostrar que ainda é valente Foi dançar a Bossa nova Escorregou no soalho Caiu, foi pro hospital Eram pr'aí sete e pico... Quando o serviço abundante No baile se iniciou O D. Grilo num instante A alface devorou Diz-lhe a Locas ao ouvido Pareces um animal Eram pr'aí sete e pico... A D. Inês sequiosa Não resistiu ao Wiski E pra se tornar famosa Quis ir dançar o twist Ao dar um jeito partiu-se A coluna vertebral Eram pr'aí sete e pico... Faltou a luz e gerou-se A confusão natural E a Locas encontrou-se Nos braços do Amaral Logo esta grita aflita: Acendam o castiçal! Eram pr'aí sete e pico... #5 Cantam as filhas da Rosa Cantam nas filhas da Rosa Cantam nas filhas da Rosa Respondem lá do jardim Olaré quem canta, canta assim E a minha fala não é A mesma que era algum dia Quem ouvia a minha fala E o meu nome conhocia Refrão E o cantar parece bem E é uma prenda bonita Não empobrece ninguém Assim como não enrica Refrão Se eu soubesse cantar bem Nunca estaria calado Mesmo assim cantando mal Não vivo desmarginado Refrão Não julgues por eu cantar Que a vida alegre me corre Eu sou como o passarinho Tanto canta até que morre |
# 6 No dia em que o mundo mudou
Preocupada entre a vontade e o medo Quase guardava um segredo Quase ganhava razão Preocupado entre o medo e a vontade Quem dera seja verdade Não me deixes dizer não Faz frio lá fora e é tão bom estar contigo Não faças caso a nada do que eu digo É hora de sair mas não consigo, e amanhã? A manhã chegou devagarinho Fez de conta que nem se quer reparou Já é dia, ousadia, aconteceu um dia No dia em que o mundo mudou Preocupada entre o passado e o futuro Ninguém acerta no escuro Nem sei se quer acertar Preocupado entre o futuro e o passado O medo é tempo adiado á espera de clarear Refrão # 7 Assunto encerrado A vida refaz-se devagarinho Se calhar há-de haver ninho Há-de haver onde ficar É como a lua Que vem quando lhe apetece Não precisa GPS Sabe sempre onde parar A norte fica um Pólo mais discreto Há-de haver onde ficar Enquanto a sul Fica tudo a céu aberto Entre o gelo e o deserto O importante é caminhar Então alinho o meu discurso Pelo de quem ficou calado Dou o dito por não dito E está o caso arrumado E ponho na conta Que quem conta Contou mal E assunto encerrado Aceito o abrandar das avenidas Vou jogando às escondidas Para me deixar apanhar E nem quero saber nada do futuro Não tenho um porto seguro Nem sei se o quero encontrar E se algum dia Eu for dar a qualquer lado E vir que estou enganado Eu vou-me rir a valer E nem me importo Se me falam dos perigos Se até a onça tem amigos Porque não os hei-de eu ter Refrão #8 Email para Paris A noite deslizou pela cidade Convite para jantar É sempre assim O vinho sabe a lua Qual é a tua rua Será que ainda te vais lembrar de mim O tempo foge entre a mão e o beijo Amor de fim de noite Sim ou não De Montmartre a Pigalle Da Lapa ao Príncipe Real Só não nos abandona a solidão E o Bairro Alto engole os viajantes Guiados pela vertigem e pelo assombro Acordo no teu quarto Não sei quando é que parto Mas gosto do perfume do teu ombro Et toi? Est ce que tu vois Ce qu’il ce passe par lá Des fois comme ci De fois comme çá Dis-moi Et toi? Est ce que tu vois Ce qu’il ce passe par lá Que moi je ne comprend pás O fado é como um choro Après la fête A manhã vai chegar e ninguém a vê E enquanto o tempo passa A estrela sobe à Graça E vai de Bologne a Sait Germain dês Prés #9 São João Se fôreis ao São João Se fôreis ao São João Aí traguei-me um São Joãozinho Aí traguei-me um São Joãozinho Se não pudéreis com um grande Se não pudéreis com um grande Ai traguei-me um mais picanino Ai traguei-me um mais picanino São João casai as moças São João casai as moças Ai as que vos fazem fogueiras Ai as que vos fazem fogueiras Aquelas que não as fazem Aquelas que não as fazem Ai deixai-as ficar solteiras Ai deixai-as ficar solteiras Eu hei-de ir ao São João Eu hei-de ir ao São João Ai o meu marido não quer Ai o meu marido não quer Deixai-o vós abalar Deixai-o vós abalar Ai eu farei o que eu quiser Ai eu farei o que eu quiser Do São João ao São Pedro Do São João ao São Pedro Ai quatro dias cinco são Ai quatro dias cinco são Moças que andais à soldada Moças que andais à soldada Ai aligrai o coração Ai aligrai o coração #10 Senhora do Almortão Senhora do Almortão Óh minha linda raiana Virai costas a Castela Não queirais ser Castelhana´ Senhora do Almortão A vossa capela cheira Cheira a cravos cheira a rosas Cheira a flor de laranjeira Senhora do Almortão Eu para o ano não prometo Que me morreu um amori Ando vestido de preto |