LETRAS
1. AI CARAMBA Veio da costa com sorrir de quem chegava cedo Trazia histórias de baleias de marés e medo E aquela gente que nunca tinha visto o mar contado Ouvia tudo como segredo que é revelado E a filha do carpinteiro que era como uma sereia Tão boa como água mansa fêmea como a lua cheia De crescer água na boca de sonhar a noite inteira Punha-me a pensar sozinho que ainda a deitava na eira Ai caramba! Aquilo é que havia de ser caramba Palavra de honra Só me arrependia do que não fizesse Ai se eu pudesse catraia Levava-te a navegar O teu lenço, a tua saia Deitava os dois ao mar E era o que Deus quisesse, Ai catraia se eu pudesse... Raio de moça que já me põe a falar sozinho Ainda hei-de um dia aparecer-lhe à curva do caminho Quando a nascente se levantar lá das terras da sorte Hei-de dizer-lhe que é mais bravia que o vento norte E um dia de manhãzinha o pescador perdeu o medo E foi bater-lhe à porta e disse eu quero contar-te um segredo E ela pior que as marés deu-lhe a resposta despachada Mais mas é de volta ao mar que tu daqui não levas nada Ai caramba! Aquilo é que havia de ser caramba... 2. TEMPORAL Se a barcarola não anda Por ter medo ao temporal Enquanto a maré não anda Não se vai o vendaval Ó pescador quem te mandou esquecer Que as marés não têm dia nem hora Tanta coisa pra fazer E o temporal não se vai embora Se a barcarola não anda Como hei-de eu fazê-la andar E se há correntes de outra banda Que hei-de eu fazer para voltar Ó pescador se a noite não te diz Os segredos que o mar tem lá no fundo Que hás-de fazer tu para ter Mais força que o mar que é dono do mundo E quando morre o poente ainda esperas que se acabe o temporal Se a barcarola não anda Por ter medo ao temporal Enquanto a maré não anda Não se vai o vendaval Ó pescador quem te mandou esquecer Que as marés não têm dia nem hora Tanta coisa pra fazer E o temporal não se vai embora 3. QUADRILHA 4. FRAGA 5. MENINA DO FATO NEGRO |
6. CHAMARAM-ME CIGANO
7. NORMANDA 8. DESNORTEIO 9. BALADA DAS NAUS 10. MULHER DA ERVA Letra de Zeca Afonso Velha da terra morena Pensa que e já lua cheia Vela que a onda condena Feita em pedaços na areia Saia rota Subindo a estrada Inda a noite Rompendo vem A mulher Pega na braçada De erva fresca Supremo bem Canta a rola Numa ramada Pela estrada Vai a mulher Meu senhor Nesta caminhada Nem m'alembra Do amanhecer Há quem viva Sem dar por nada Há quem morra Sem tal saber Velha ardida Velha queimada Vende a fruta Se queres comer A noitinha A mulher alcança Quem lhe compra Do seu manjar Para dar A cabrinha mansa Erva fresca Da cor do mar Na calçada Uma mancha negra Cobriu tudo E ali ficou Anda, velha Da saia preta Flor que ao vento No chao tombou No Inverno Terás fartura Da erva fora Supremo bem Canta rola Tua amargura Manha moça .. nunca mais vem |